Viver em sigilo: o peso do segredo nos relacionamentos liberais
A cena liberal, que envolve práticas como swing, ménage e outras formas de relacionamentos não monogâmicos, cresce de forma constante no Brasil. Entretanto, junto à expansão desse universo, permanece uma característica marcante: a opção pela discrição. Muitos adeptos preferem manter sua vida sexual paralela distante do convívio familiar, profissional e até mesmo de círculos de amizade. O silêncio, segundo especialistas, não representa necessariamente vergonha, mas sim segurança e liberdade.
Por que esconder?
Para Gustavo Ferreira, head de marketing do aplicativo de encontros casuais Ysos, a discrição pode ter efeitos positivos. “Muitos casais e solteiros relatam que o segredo aumenta a sensação de cumplicidade e liberdade. O mais importante é que seja uma escolha consciente, baseada em segurança e conforto, e não fruto de repressão ou culpa”, afirma.
Segundo ele, a tecnologia tem papel essencial para proteger a privacidade dos usuários. “O nome Ysos vem da ideia de confidencialidade: Your Secret is Our Secret. Nossa proposta é permitir que cada pessoa decida o quanto deseja se expor, controlando fotos, mensagens e informações pessoais”, explica.
Apesar de o tema estar cada vez mais presente no debate social, o principal motivo para o sigilo ainda é o receio do julgamento. “Embora as práticas liberais estejam mais visíveis, elas carregam estigmas. A discrição é a forma encontrada por muitas pessoas para preservar não apenas sua intimidade, mas também suas relações sociais e profissionais”, comenta Ferreira.
O segredo como proteção
Carine*, casada há 27 anos e integrante do meio liberal há 10, exemplifica esse dilema. “A família do meu marido é conservadora e não aceitaria bem. Por isso, preferimos o silêncio”, conta. Com filhos adultos, ela adota a postura de evitar explicações desnecessárias: “Se alguém pergunta demais, costumo responder: não pergunte o que não quer saber a resposta”.
Para ela, o segredo não é sinônimo de falta de autenticidade, mas de proteção. “Não se trata de negar quem somos, mas de evitar conflitos que poderiam afetar a convivência familiar e social”, relata.
A tecnologia a favor da liberdade
O avanço dos aplicativos também contribui para essa dinâmica. O Ysos, lançado em 2018 pelo Sexlog — maior rede social adulta do país —, oferece recursos de chats seguros, filtros de compatibilidade e controles de exposição. “Quando começamos, não era permitido o uso de fotos de rosto na galeria pública. Com o tempo, casais que se assumiam liberais pediram para mostrar suas imagens sem filtros, e nós nos adaptamos”, explica Gustavo.
Essa mudança, segundo ele, reflete a evolução cultural em torno do tema. “A tecnologia acompanha a sociedade. Hoje, há espaço tanto para quem deseja se manter no anonimato quanto para quem opta por maior visibilidade. O importante é respeitar a liberdade individual de cada usuário”, afirma.
Serviço: como funciona o Ysos
O aplicativo, disponível para Android e iOS, tem como principal função conectar casais e solteiros interessados em experiências como o ménage a trois. Criado para oferecer um ambiente seguro e controlado, a plataforma permite que o usuário ajuste seu nível de exposição e encontre parceiros de forma discreta e protegida.
*Nome alterado a pedido da entrevistada.